Economia

Os desafios da indústria de Pelotas

Terceira força em geração de emprego, a indústria é vista como essencial para desenvolver economicamente o município

Infocenter -

Pelotas não é mais um cidade industrializada como os antigos costumam lembrar e falar de décadas passadas. Hoje, as características da economia local concentram-se em serviços e comércio, setores responsáveis por mais de dois terços dos empregos formais, de acordo com dados do Ministério do Trabalho. O desejo de atrair e formar indústrias locais é classificado como prioridade número um da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação. Mas antes, é preciso romper alguns gargalos. O principal diz respeito à conclusão de obras estruturais, caso da duplicação da BR-116, que dependem de uma conjuntura nacional.

"Nenhuma cidade tem uma base de desenvolvimento sem ter uma indústria forte. É o setor com empregos mais qualificados, melhores salários", lembra Amadeu Fernandes, presidente do Centro das Indústrias de Pelotas (Cipel) e diretor da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). A ideia é compartilhada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Estima. Além de gerar receita ao município, o setor é visto como a oportunidade para os melhores empregos e salários.

Além da formação de mão de obra qualificada, com universidades e institutos federais, outra potencialidade é a proximidade com o Porto de Rio Grande, principal meio de exportação de mercadorias do Rio Grande do Sul.

Políticas para o desenvolvimento

"Precisamos reindustrializar a região" é a primeira frase de Fernando Estima ao falar sobre o tema da indústria. Sua visão, enquanto gestor público, é a da necessidade de agregar valor às mercadorias produzidas na região através da inteligência local e da mão de obra especializada formada nas universidades e nos institutos que temos. Ao Poder Público, opina, cabe desburocratizar e acelerar processos para que as atividades possam ser desenvolvidas sem amarras.

Para o horizonte de criar produtos com valor agregado e a chamada indústria 4.0, está apontado o Parque Tecnológico de Pelotas, espaço voltado para o que muitos consideram as indústrias do futuro. O Parque é focado em desenvolver produtos e soluções em inovação tecnológica em três áreas: tecnologia da informação e comunicação, tecnologia em saúde e indústria criativa. Até o final deste ano, a secretaria deixa a presidência da associação, criada para gerir a estrutura, e as próprias dependências do prédio. A associação é dividida entre os sócios/empresários, entidades e pela secretaria no modelo tripartite, e responsável por administrar a estrutura pelos próximos 30 anos.

"Pelotas exporta muitas cabeças boas, que têm ideias aqui, mas não têm um espaço para desenvolvê-las. Acabam indo para outras cidades, outros centros, que possuem a capacidade de absorvê-los. Com o Parque queremos dar essas condições em Pelotas", sintetiza Estima. No Parque, cada empresa incubada permanecerá por cerca de cinco anos. Para que a ideia não precise encontrar outros endereços para se viabilizar após o período, uma área de 20 hectares na Sanga Funda é planejada para o "pós-parque", onde as iniciativas, já basicamente estruturadas, poderão ganhar mais corpo.

Outras três áreas são vistas como estratégicas, além da Sanga Funda. Uma delas é o EixoSul, na BR-116, estrutura privada de um milhão de metros quadrados que já negocia espaços. A região portuária de Pelotas, com muitos espaços vazios, também simboliza potencial, a partir da recuperação do Porto de Pelotas com as operações da celulose. Pelo Plano Diretor, a região abarca atividades de baixo impacto. O distrito próximo ao trevo de acesso à Fenadoce também é visto como determinante para uma expansão industrial, uma vez que algumas indústrias do setor de alimentação já estão instaladas no local. "Para uma indústria se instalar num determinado espaço, precisamos de água, fibra ótica, energia elétrica, infraestrutura viária. Estamos perto do Porto de Rio Grande. Eu vejo a nossa região como um lugar fadado a dar certo. Tem recursos hídricos, energia, proximidade com o mar para a logística", enumera Estima.

Melhores empregos e crise

A indústria, dentro do setor privado, é a que oferece os melhores empregos e salários. A afirmação é praticamente uma unanimidade entre os entrevistados. Por ser uma indústria ligada à alimentação, uma das características do setor, em Pelotas, é a sazonalidade, observa o sociólogo Hilbert David Sousa, do Observatório Social do Trabalho da UFPel. Se, em 2014, o acumulado de empregos formais superou os informais, atualmente o quadro novamente voltou a se inverter, com a crise econômica e política. 2014 foi o ano com maior estoque de empregos formais em Pelotas na série histórica: eram 79,6 mil vagas. Em 2016 o número caiu para 62 mil.

Neste fator, a indústria antecipou a crise de 2016 e houve perdas significativas em 2015. O melhor ano de empregos na indústria foi 2012, quando o setor empregou 12,3 mil pessoas. No final do ano passado, o setor acumulava 8,7 mil empregos - 13% do total. "Em 2003 o Brasil possuía 22 milhões de empregos formais, em 2014 eram 46 milhões. No entanto, há uma alta rotatividade no setor privado, causando um efeito: os admitidos têm salários inferiores aos demitidos. É um problema estrutural de contenção da massa salarial", avalia o sociólogo. Em janeiro de 2018, o estoque atingiu 37 milhões de empregos, apontam dados do Ministério do Trabalho utilizados pelo Observatório Social.

Os melhores salários dependem do setor industrial, apesar de haver grandes diferenças entre os tipos de indústria. Sousa cita os da indústria metal-mecânica de Rio Grande, no auge do Polo Naval, como superiores aos praticados na indústria alimentícia de Pelotas, por exemplo, por características particulares a cada setor. O caminho à frente também não é favorável: o Observatório ainda não tem indicadores da recuperação do emprego no Brasil e em Pelotas. A cessão de grandes investimentos públicos na região também esfria o cenário. "Com a PEC do teto de gastos, a médio e longo prazo não há previsão de financiamentos e de outros investimentos", exemplifica.

Estrutura para produzir

A conclusão da duplicação da BR-116 é vista por Amadeu Fernandes como principal fator para a atração de indústrias para a região. Industriário há mais de 40 anos, Fernandes se considera um especialista em mercado exterior. "Hoje um dos principais custos para a indústria é a logística. Em todo o mundo é assim: as indústrias se posicionam perto de locais onde possam escoar a produção. Com a duplicação concluída, facilita o acesso ao porto e faz da 116 um caminho de desenvolvimento", prevê.

Hoje, porém, ainda faltam algumas estruturas para atrair indústrias e empresários para a cidade. A situação atual é considerada estável, e Amadeu destaca a tradicional indústria da alimentação, citando a cadeia do arroz, a da construção civil e a indústria da saúde como principais setores industriais de Pelotas. "Além da duplicação, tem a instalação da Usina Termoelétrica em Rio Grande, que promete grandes investimentos, e a questão da dragagem no Porto, que precisa ser feita para continuarmos trabalhando com navios de grande calado", opina.

Entre as vantagens, Amadeu fala sobre a formação de conhecimento e de mão de obra qualificada através das universidades, institutos e entidades educacionais. "Formamos especialistas, isso é uma grande vantagem competitiva. Precisamos aproveitar esta força", comenta, trazendo o assunto da tecnologia que, apesar de ser considerada do futuro, muitos aspectos já são utilizados hoje na cadeia produtiva local.


Série histórica do emprego formal na indústria (*)
2010 - 9.627
2011 - 12.086
2012 - 12.318
2013 - 11.112
2014 - 11.026
2015 - 9.743
2016 - 8.794

Participação da indústria nos empregos formais (*)
2006 - 15,3%
2007 - 15,9%
2008 - 14,5%
2009 - 15,4%
2010 - 13,8%
2011 - 16,2%
2012 - 15,9%
2013 - 14,2%
2014 - 13,9%
2015 - 12,7%
2016 - 11,8%

(*) Dados do Observatório Social do Trabalho de Pelotas


Participação no PIB do município
2002 - 14,2%
2003 - 14,6%
2004 - 13,5%
2005 - 13,7%
2006 - 12,1%
2007 - 11,4%
2008 - 12,6%
2009 - 13%
2010 - 15,1%
2011 - 18%
2012 - 15,9%
2013 - 12,9%
2014 - 13%
2015 - 13,2%

(**) Dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS)

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